segunda-feira, 5 de março de 2012

Suprema Convulsão

- Caras, preciso ir.
- Mas ir pra onde, cara!? Estamos no meio do nada.!
- Não sei, simplesmente preciso ir.
- Ah. Tá bom, falou.
***
Aí as estrelas entraram em convulsão. Como? Não sei. Entraram. Começaram a debaterem-se, liquidificarem-se, convergir para algum epicentro não nítido.
Eu simplemente estava caminhando, e elas me seguiam, como de costume. A lua deu um xilique e se escondeu atrás de umas nuvens faceiras que por ali passavam. 
Aí as estrelas piraram. Algumas entraram em combustão espontânea, outras ejacularam. Mas a grande maioria dava mesmo era prosseguimento àquela dança macabra e elíptica e linda que eu via. Efetivamente, linda.
Confesso que estava gostando. Sentia como se minha alma se manifestasse ali, e minha alma se convulsionasse junto com os corpúsculos luminosos.
Apenas me deixei ficar ali, observando o convulsionamento dos membros astrais e vando a natureza, finalmente, se manifestando artísticamente para me impressionar, a mim que sempre tentei impressionar a natureza com minha arte.
Senti-me como um deus. E gostei.
Tentei pensar no que um deus costuma fazer quando quer se divertir. Cheguei à conclusão imediata de que nada nesse mundo pode ser tão divertido quanto a própria humanidade e a preguiça, sim! A preguiça eterna, de saber que não se precisa fazer nada, nem responder ou provar nada a ninguém. Subitamente, compreendi tudo: toda a miséria, nossos sentimentos confusos, a insaciedade, a confusão, os dilemas, a guerra, o sexo, Ela. Tudo fez sentido: A humanidade é um teatro de deus, um desenho animado, uma comédia romântica. A humanindade é a natureza tentando impressionar deus artísticamente, corpúsculos luminosos convulsionando-se ao léu.
Sentindo-me como um deus, e tendo tido uma epifania, resolvi aproveitar então a voluptuosa preguiça. A pecaminosa preguiça. Não pude deixar de pensar em como, sendo um deus, seria delicioso cometer pecados contra mim mesmo. Mas isso foi só um pensamento passageiro.
Tentei beijar o céu e ele não se esquivou. Deitei-me na grama fresca e sentia brisa acariciando meu corpo todinho, com volúpia e devoção. Parecia-me uma garota apaixonada.
Fechei os olhos e senti-me um verme outra vez. Agora queria aninhar-me num buraco na terra ou num cadáver qualquer, e ali, fazer minha última morada.
Não encontrei meu lar.
Abri os olhos e as estrelas já não estavam mais lá. Foram finalmente vencidas. Débeis como garotas insaciadas.
Ergui-me, conclui minha caminhada, e aqui estou.

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