quinta-feira, 8 de março de 2012

Le Cafe de Nuit

Eu caminho pela cozinha, no escuro, e eu não vejo a garrafa de café, mas eu posso sentir a sua presença fálica e sensual. Sinto-a não como um objeto de fetiche, ou do meu desejo, mas como uma extensão do meu próprio falo, um símbolo da minha própria virilidade. Extraio então, ritualisticamente, todo o seminal conteúdo negro de seu interior, como se buscasse a minha própria essência, a minha própria alma, quente, negra e adocicada, levemente amarga, é verdade, pra fazer uma comparação willsmithiana.
A luz da lua desenha uma janela pálida sobre os ponteiros do relógio, que marcam, precisamente, as duas horas da manhã. Sorrateiramente, termino de depositar o sagrado líquido na minha caneca e, pé ante pé, para não despertar os meus pais, volto para o meu quarto, onde sou recepcionado por Jô soares e seus convidados - relembrando saudosamente a sua brilhante vida intelectual e cultural de algum tempo dourado - pelo meu combalido computador, possuído por milhões de bits de sons de outras dimensões, personalidades, histórias, filosofias e tudo o que minha conexão de 400 kbs permite. E, é claro, por um caos primordial de gibis, livros e papéis, muitos papéis, que me rodeiam e me fazem companhia.
Às vezes, eu me pergunto se é o café que não me deixa dormir ou se sou eu que não deixo dormir o café...



xviii/vi/mmx - ii:am

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