terça-feira, 6 de março de 2012

Eu

Eu. Sempre eu. Impreterívelmente, eu. Olho-me no espelho e me vejo ali, e se viro o rosto e mantenho o olhar fixo, eis que os olhos do espelho permanecem fixos em mim. Não para de me olhar?
Se desvio o olhar, pressinto que o reflexo continua me olhando, mas não posso constatar. Posso! Tento olhar rapidamente. Sabia! Ali estão ainda meus olhos penetrantes a me condenar.
Fechos os olhos e ainda me vejo, no escuro das minhas cavernas psíquicas. Caminho e a presença da minha sombra insinua que ainda estou ali. Oh: eu. Porque não vou embora? Já tentei, mas não adianta. Apresso o passo, mas a sombra ainda me segue, inexpugnável prova de mim. Desesperado, desato a correr, mas ainda mais corre a sombra.
Mas, pouco a pouco, vai se esvaecendo, até que consigo despistá-la. Melhor não parar de correr para não ser alcançado. Tanjo minhas roupas e sinto que elas me contém. Oh: eu. De novo. Ainda ali como um fantasma de mim mesmo, e ainda que me livrasse de mim, restaria o fantasma que sou eu.
Quê, então?
Arranco minhas roupas com a birra de um selvagem, disposto a, pelo menos, me esconder de mim mesmo, mas sinto ainda meu pinto a balançar despirocado. Sinto a volúpia do vento e percebo que ainda estou ali, envolto por cada golada de ar que me perpassa. Escalo o cristo em desespero e tento, em preces - preces sem destinatário - me conectar com a eternidade, com o todo, com o nada, com qualquer coisa que não seja essa misérrima partícula que me sinto.
Ainda o meu rosto, meu corpo, minha alma, meu espírito, meus sorrisos, meus testículos, minha fúria, meu desespero, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu,...

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