segunda-feira, 5 de março de 2012

Gineofagia

Sinto-me um deus-verme. OnImpotente. Mestre e discípulo sem causa ou razão alguma. Inútil. Como alguém que tem o poder de transformar comida em pedra.

Minha alma dionisíaca tem fome. Uma fome desmesurada e destrutiva, assassina. Incontível. Meu alimento se foi. Foge de mim como o diabo da cruz, não!: o diabo não foge da cruz, mas meu alimento, meu sagrado alimento, meu delicioso alimento, dá-me pequenas provadelas para depois esvair-se como se fosse apenas o cheiro de uma comida boa, extraído de uma essência roubada de um bâlsamo do demônio e presenteada a entes perversos.

Minha alma faminta caça presas indefesas, como um lobo, e cruelmente as devora. Devora seu espírito sem sequer rezar, ou agradecer, ou desculpar-se com o cosmos, como fariam os antigos, ou oferecer um sacrífício ou dádivas ou qualquer demonstração de respeito, pois não crê, e despreza tudo isso. Não. Apenas veneno destilado pelo cinismo e pela sedução vã, como uma cobra mui exuberante. Mostra suas elegantes abas, exibe a dentição pontiaguda, erétil, fálica e poderosa, com escamas brilhantes e rígidas, hipnotizando o pobre gineocardio indefeso. Vendo-o paralisado e dominado pela fome, a cobra instintivamente a ataca, com precisão e perícia, no ponto mais sensível, subjugando assim pra sempre a pobre vítima, que morre em seus braços com um sorriso no rosto e um esgar sinistro. "Oh, sim, assim, mata-me de mansinho, mata-me de prazer, sim, assim, continue, não pare, quero morrer sob sua verga", geme a pobre e estertorada vítima. E, assim, a pobre vitima se esvai, o pobre gineocardio, mas a naja não se saciou ainda e procura outros gineocardios para comer, porque sua alma dionisíaca tem fome e seu alimento foge, dando-lhe apenas pequenas mordiscadelas para manter em seu peito o apetite cruel e a fome arrebatadora.

OH!

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