sexta-feira, 9 de março de 2012

Eu.Matei.Rafael.Mascarenhas.

Eu o odeio. E quero que ele morra. Desejo isso com todas as forças do meu ser. Com todo o meu coração. Com todo o meu carinho. Morra ele e a sua bondade despretensiosa. Ele e seu carisma involuntário. E o sorriso. Aquele indefectível sorriso. Nos seus lá​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​bios. Eterno. imóvel. Como uma cirurgia plástica mal feita. Aquele sorriso... Aquele maldito sorriso que me tira do sério. Será que ele é sempre feliz? Será que é sarcasmo? Será que é ironia? A ironia é a forma de humor mais cruel de todas. Com isso, eu o odeio.
Eu não sou mau. Ele, tampouco, é mau. Mas o odeio, ainda assim. Como odeio o céu, com toda a sua ternura e seu azul infindável. (Bleargh). A culpa é do céu? O céu é mau? Não. Mas assim é que são as coisas. As coisas são más. Erradas. Tortas. E esquisitas!:  É involuntário. Mas isso não muda o fato de que eu preciso tanto dela... Júlia. A adorável e poderosa Júlia. A adorável e pecaminosa Júlia. (Minha língua estala ao pronunciar seu nome e meu falo se manifesta). Ela anda como um anjo. Ela fala como um anjo. Ela rebola como um anjo. Mas ela é o demônio disfarçado. Oh, sim, meus irmãos, creiam nisso com seus corações pecadores. Como eu poderia não odiá-lo, se há incontáveis tempos eu a quero, mas é ele quem tange suas asas quase todas as noites, quem toca seus ungidos lábios durante nossos licenciosos festins na praia? Eu o odeio.
Ele é o melhor cara que eu já conheci, pode crer. Ele é a criatura mais doce que já houve uma vez na terra. A encarnação da bondade. (Bleargh). Ele já salvou minha vida uma vez. É por isso que eu o odeio.
Eu a conheci muito antes dele. Eu a amei muito antes d'ele amaldiçoá-la. Da forma como fez. Lembro-me de que prometi não gostar dela. Simplesmente porque seria óbvio. Seria a velha história que sempre se repete comigo. Seria óbvio me apaixonar por Ela. E eu simplesmente prometi não fazê-lo. Mesmo assim, fiz aquela singela canção para ela​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​. E foi assim que eu provoquei o demônio, e ele me provocou. E agora, estou sujo do sangue deste homem. Porque eu o odeio.
Sim: eu o matei. Esse depoimento é uma confissão de assassinato e uma declaração de amor. Eu o matei, mes amis. Não quero aqui dizer que o fato de eu amá-la tão loucamente justifique os meus atos. Nem que o sangue em minhas mãos seja lavado pela força do amor. Haha! Não. Não mesmo, meus amigos. Não mesmo. Muito pelo contrário! Quem foi o desgraçado que inventou que o amor é uma força pura? Que o amor lava alguma coisa? Quem atribuiu ao amor ​tanta benevolência e doçura? No mínimo, alguém que nunca amou na vida. Ou alguém que amava o dinheiro. E viu aí uma bela possibilidade de enganar outras pessoas que, também, nunca amaram porra nenhuma na vida. O amor não é doce. Nem singelo. Nem amável. Nem tem nada de azul. Nem de vermelho. Nem de colorido. Nem corações. Nem balas. Nem doces. Nem manteiga. Nem amendoim. Nem caramelo! O amor é um sentimento compulsivo. Igual ao ódio. Não. Eles não são iguais. Nem são frutos da mesma coisa. Eles não tem nada a ver. Embora muitas vezes convivam entre si. Como nesse momento. O ódio é um sentimento divino. Este sim! Um sentimento que nos evoca a força! A proteção! E a preservação. O ódio nos torna fortes, para enfrentar o mundo. O ódio nos faz enfrentar nossos opressores, e querer oprimí-los. E ser mais fodas do que eles. O ódio é dionisíaco. Por isso mesmo, não devemos amá-lo. Odeio o próprio ódio, tão forte é o meu. Quanto ao amor: eu o odeio.
 O amor, por outro lado, não se pode nem dizer que seja dionisíaco ou apolínio. Nem mesmo Afrodisíaco. Nem mesmo Erótico. Nem Marcial. Nem Ariano. Nem Thanatesco. Não se pode nem dizer que essa porra tenha um deus. É uma coisa mundana e imunda tal como os objetos desejados por ele. É autodestrutivo. Pode acabar com sua autoestima. E respeito próprio. Se não se tiver cuidado. Se não se for orgulhoso o suficiente. Dica: nunca deixe ninguém saber que é amado por vc. É quase uma declaração de suicídio. Às vezes, acho que a natureza criou o amor por uma questão de seleção natural. Para eliminar gradativamente os mais fracos. Ou por pura autodestruição. Sim, a espécie se autodestrói usando como barbitúrico o amor. Seu agente máximo são surrupiadores como aquele outro que matei, e por isso, eu o odeio.
E aqui estou eu fazendo considerações sobre o que é e sobre o que não é o amor. Quantas vezes eu falei essa palavra durante essa inútil declaração? Dezenas? 3? 7? 23? 27? Pouco importa. Só estou fazendo o que todos fazem. "O amor é...". E tome uma avalanche de considerações e desabafos. Como se alguém entendesse o que é isso. Como se esse nome tivesse algum sentido. Como se ele descrevesse tudo. Não: não descreve nada. Não significa nada. Os sentimentos existem, mas os nomes não podem encerrá-los. No fundo é tão confuso quanto se não tivesse nome algum. Este nome é inteiramente vazio e eu o odeio.
Eu achava que o amor não existia. Mas, depois, eu vi que existe. Eu achava que ele era diferente. Mas agora vejo que é exatamente igual.
Ele é ridículo para todas as pessoas.
E pra mim também.
E sim: ele é forte.
Eu o odeio.
O amor. O demônio. O meu Eu. E, principalmente, EU ODEIO RAFAEL MASCARENHAS. Eu o odeio.
Acho que o mundo vai sentir falta dele. Vocês deviam ver ele tocando. Apesar de ser branco, acho que chegava aos pés de Hendrix; Clapton, no mínimo. Ele era sentimental, mas... não havia um pingo de tormenta nele. Dava uma paz estranha e soberana vê-lo tocando. Tão estranha, que eu não podia suportar. Acho que até entendo por que Júlia preferiu ficar com ele. E não comigo. Começando um namoro com ele apenas uma semana depois de eu escrever aquela porra daquela música pra ela. Aquela porra daquela música. Aquela música maldita que mudou tudo. Que transformou uma história infeliz e tediosa em um conto trágico. E cheio de reviravoltas. Eu estava achando o equilíbrio. Eu estava eliminando os desejos. E então... E é por isso que eu odeio.
Foi por isso, meus caros, que eu o matei. Com todo o meu amor. Era eu. Era eu naquele carro. Naquele túnel. Ele andando com um deus imponente sobre quatro rodinhas de rolamento. Sobnre sua nuvem sobrenatural. Que ele chamava de skate. No túnel Zuzu Angel. Eu peguei o carro e entrei no túnel. Com tudo. Não tive a menor dúvida. Acelerei. Acelerei. Eu só via as luzes passando. Como se tivesse tomado muito Biflogin. Tudo ficando escuro ao redor. E as luzes como estrelas cadentes e deslizantes. Entrei no HyperEspaço. Mas, estranhamente, o rosto dele parecia iluminado por uma luz divina e sobrenatural. Estranhamente focado. Eu o via claramente. Sorridente. Acelerei. E vi pela última vez o seu sorriso encantado e doce amassado contra o vidro do carro. Como se dissesse: eu não morri. Minha bondade ainda estará aqui. Minha música ainda estará aqui. Minha ausência ainda estará aqui. Mais do que nunca, é por isso que eu o odeio.
Esta é minha confissão. E minha declaração de amor. Quando esta carta chegar ao conhecimento das autoridades e do público, eu estarei ​a milhas de distância, com Júlia. Talvez num motel de beira de estrada. Ou talvez num Peres-Lachaise. Eu precisava compartilhar isso com o mundo porque eu tirei dele  uma das criaturas mais  merecedoras de viver que já existiram. Não serei pretensioso a ponto de pensar que essa era a sua missão. Ou que existe uma lição a se tirar disso tudo. Ou que minha confissão servirá para minha absolvição. Não, sequer quero ser absolvido. A absolvição ser-me-ia uma desonra. A condenação, por outro lado, me honra, como o reconhecimento de um grande filósofo ou militante. Eu odeio vocês todos. Do fundo do meu coração estilhaçado. Em anexo, segue um vídeo e fotos dos policiais que subornei. Canalhas. Eu os odeio.
Mas vcs nunca poderão me pegar. Porque eu tenho uma força sinistra e imprevisível dentro de mim: o meu amor. 
E eu o odeio.

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